Paulo em sua primeira carta aos coríntios, no capítulo 5, fala de um assunto extremamente importante nos dias atuais.
Paulo fala aos corintios, uma igreja que estava localizada num lugar que tinha os templos de apolo e afrodite e onde a comida era oferecida aos deuses e haviam as sacerdotisas que propunham aos habitantes de corinto, uma conexão espiritual através de orgias sagradas com elas dentro dos templos; portanto era um local onde a imoralidade existia abundantemente e mais, era tida como meio de alcançar o sagrado. Aí Paulo vem e diz que na igreja de corinto havia imoralidade pior, citando o caso do cara que mantinha relações com a sua madrasta, e Paulo diz que apesar dessa imoralidade a soberba dos corintios impedia que eles vissem essa imoralidade como tal.
Para Paulo a pessoa que chega ao estado de manter relações com a mulher do seu pai, esta num processo de diluição moral e de consciência que se não for interrompido a tempo, pode resultar na perdição dessa pessoa, por méritos dela mesmo. Porque uma pessoa em tal estado perdeu todo o senso de respeito ao próximo; o senso de família como local de convivência respeitosa e com limites; perdeu a consciência de quem é, pois sabendo quem era, saberia quem seriam os outros e os trataria de forma digna; perdeu o medo da morte, uma vez que praticava algo que por si só já levaria a morte, tanto quando ele caísse na consciência de si, quando a “amada” lhe deixasse uma vez que vivia uma sensação de dependência, se não da pessoa, mas da sensação de estar com ela, quanto quando isso chegasse ao conhecimento de seu pai (se ainda estivesse vivo), que quando soubesse, no calor do momento, poderia tomar medidas irresponsáveis na tentativa de resolver o assunto - enfim havia várias possibilidades de terminar em morte. Além de todo esse processo destrutivo interior vivido pela pessoas, o pior é que tudo isso estava sendo vivenciado sob a cobertura da igreja e revestida de cinismo e sacralidade.
Aí Paulo acusa a igreja de estar tão impregnada de soberba e protecionismo quanto aos seus membros, que não tinha nesse ato, uma medida que lhes impulsionasse a tratar o irmão da forma como deveria ser tratado; e ele diz que mesmo estando ausente, já havia julgado esse irmão, o entregando a satanás para a destruição do corpo, para que o espírito fosse salvo no dia do Senhor.
Nesse ponto, Paulo fala sobre a atuação do pecado no ser humano. Segundo Paulo, o pecado atinge inicialmente o corpo (a carne), que tem no pecado, a satisfação de seus desejos. Depois atinge a consciência, fazendo com que tal pecado, além de satisfação de desejos carnais, seja fruto da consciência, sendo friamente premeditado e calculado para acontecer. Depois ele atinge o inconsciente, fazendo com que o que antes a consciência, em momentos de surtos racionais, reprovava, passe a ser normal, ocorrendo assim, uma total inversão de valores. Por último, o pecado atinge a alma e o espírito, passando o a ser parte integrante da pessoa e não um corpo estranho a ser remido, uma vez que não há nada a ser retirado, causando a separação entre o ser e Deus, por escolha racional do mesmo. É nesse ponto que se perde a salvação; quando se acha que não há nada a ser salvo, nada a ser retirado, quando tudo, por pior que seja, passa a ser normal; quando ao receber a proposta redentora, ao se enxergar, tem-se a pretensão de que não há nada errado, não que não exista nada de errado, mas porque o que antes era errado, agora é parte de mim, não existindo a possibilidade de retomada de consciência, uma vez que a pessoa tem a mente cauterizada e é entregue a um estado de mente reprovável, para fazer as suas próprias vontades, como disse Paulo.
Paulo continua falando sobre o mal que a associação com pessoas neste estado causa, produzindo entre os irmãos, um fermento ruim – o ingrediente causador do caos -, que acaba por levedar toda a massa e produzir no grupo um “desandar de massa”. Paulo diz que já havia os avisado sobre essas associações; e ele diz que quando os falou sobre isso, não disse acerca dos gentios da cidade de corinto – e na cidade havia possibilidade de associação e participação de todo o tipo de ritual e união maléfica -, mas acerca daqueles que se dizendo irmãos, fossem devassos, avarentos, prostitutos, sendo tudo isso protegido pela religião e pela fraternidade evangélica da época. Portanto o problema não é ser avarento, mas se dizer são, sendo doente, o que mergulha o ser num processo de auto-engano e posteriormente de engano ao próximo, sem a menor dor na consciência. Quanto a estes, Paulo diz pra nem mesmo comer com eles; não partilhar de nenhum momento.
É nesse ponto que queria chegar.
O mais interessante é que Paulo não acusa os avarentos, mas os avarentos que não se vêem como tal, e aqui mora o erro mortal: não se enxergar como se é. E se analisarmos esse surto de ser “acima de qualquer suspeita” dificilmente acontece no meio dos avarentos, prostitutos, ladrões e pecadores; ele acontece no meio do povo que se diz de Deus, no meio da fraternidade evangélica, onde ir ao templo, já me caracteriza como um ser diferente dos demais pecadores. Esse sentimento é causado pela necessidade de aceitação no meio da fraternidade evangélica, que se apresenta como uma união de santos; não santos como pessoas santificadas em Cristo e por Ele, mas santos como seres irrepreensíveis e que não pecam por méritos próprios, e essa é a grande mentira. É o surto vivido pelo sacerdote que ora agradecendo por não ser igual ao pecador ao seu lado, ao invés de como o pecador ao lado, se reconhecer como pecador e carente da glória de Deus. Todo esse auto-engano é patrocinado por uma só coisa: o sentimento de auto-justificação. A pessoa acha que por meia das obras, do ir a igreja, do orar, cantar, pregar e tudo o mais, todos os seus pecados são expiados, fazendo o sacrifício de Jesus vão.
Nós temos a impressão de que os grandes hereges são os ímpios, desviados e descrentes que não estão na igreja, mas não sabemos que maior negação do que não aceitar a Jesus nos padrões evangélicos, é aceitando-o assim, viver de modo a buscar formas próprias de se chegar a Deus através da própria força, negando nos atos a afirmação de que Ele é o único caminho que leva a Deus. Isso é pura heresia! Isso é diabólico! Viver desse modo é negar o escândalo da Cruz, que se fosse passível de substituição por meus méritos, porque se chamaria escândalo???!!!
A verdade é que em Cristo, todo o pecado é coberto pela graça do amor, e os meus pecados são lançados em esquecimento. Esse é o escândalo da Cruz! O escândalo de que não há nada a fazer, senão crer que Ele é por mim. O escândalo de, se sabendo pecador, descansar na certeza que Ele pagou tudo por mim na Cruz. E o que me faz desacreditar disso? Será que o sofrimento d’Ele não foi bastante? Ou será que Ele não tem o poder de me redimir?... Isso é impossível! – alguns pensam – Tenho que fazer algo para ser salvo! Mas eu digo NÃO!
NÃO HÁ NADA A SER FEITO! ELE JÁ FEZ POR MIM! ELE PAGOU TUDO!
Mas isso é inconcebível! É impensável! – outros vão dizer. E eu concordo é inconcebível e impensável uma vez que não se conhece a grandeza da graça e do amor redentor de Cristo. Se não fosse tão inconcebível assim, Paulo não chamaria de escândalo.
Nós temos uma grande dificuldade de aceitar e crer na certeza de que está pago. Jesus bradou na Cruz: ESTÁ CONSUMADO!... e quanta dificuldade nos temos de acreditar nisso. Somos seletivos acreditando no que nos parece melhor, e mais fácil de entender. Mas como diz Paulo, esse é o mistério que esteve oculto e que nos foi revelado: Jesus a esperança da Glória!... é mistério oculto... revelado em Cristo através da fé; e não fé em partes... não fé que Ele era o filho de Deus e ponto... mas fé que, sendo Ele filho de Deus e sendo verbo, se fez carne, habitou entre nós, e morreu por nós, como cordeiro levado ao matadouro... como ovelha muda, levou nossos pecados sobre si.
Preciso ter apensa duas certezas: Primeiro: Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus. Segundo: Mas o sangue de Jesus nos purifica de todo o pecado... e nós que estávamos mortos pelo pecado hoje revivemos com Cristo para que sofrendo com ele na sua morte sejamos também participantes da sua glória!
É nisso que quero descansar... na certeza de que sendo eu incapaz de me salvar, Ele o fez por mim... não que eu merecesse, mas por amor e Graça que vem de graça pra todo o que o aceitar e quiser descansar nessa certeza. Isso me liberta de toda neurose de ser... me liberta para ser em mim, o que sou n’Ele.
N’Ele.