Caminhando na Graça

5.12.08

Pra que serve o Evangelho?

Hoje a noite estava em casa vendo tv e vi uma notícia q me chamou a atenção: um grupo de detentos de um presídio não lembro aonde decidiram fazer um dia de jejum… o objetivo é que o alimento não utilizado nesse dia de Jejum fosse doado às pessoas desabrigadas de Santa Catarina. Vendo isso pensei em como as coisas são.. como as aparências enganam… as pessoas que são vistas como miseráveis, bandidos, marginais, assassinos, escória da sociedade, nesse momento de catástrofe, se mostraram mais solidárias do q muitos de nós (nos quais eu me incluo)… pessoas q segundo alguns mereciam morrer, se mostraram mais dignas da vida do q muitas de nós, por usarem suas vidas para prestar assistência a quem precisa mais. E por que isso?… talvez pq a circunstância que os envolve sirva pra forçá-los a entrar em contato consigo… percebam o quão necessitados de misericórdia são… percebam são seres sociais e q pra ter uma vida q faça sentido, ela só pode ocorrer com a interação com o próximo.

Com isso me peguei pensando no potencial “ser solidário” que existe dentro de nós e no potencial egoísta q temos dentro… Jesus sempre apontou pra essas dualidades e dicotomias q temos dentro… falando sobre morte e vida, salvação e perdição, luz e trevas… Ele sabe que nós trazemos dentro, elementos q podem nos transformar em “Madres Teresas de Calcutá” ou em “Nardonis”… somos um oceano de infinitas possibilidades… e o q nos faz ser uma coisa ou outra? Na minha opinião, acho que a Vida… entenda como vida, nossa criação, nosso conjunto de relações (familiares, amizades, companheiros de trabalho, escola e etc), nossas experiências (produto de nossos relacionamentos com pessoas e circunstâncias)… esse conjunto de coisas formam nossa vida… e é essa vida q nos faz ser quem somos.

Não que amizades ou famílias digam exatamente quem somos… mas elas nos fornecem experiência e ensinamentos que nos possibilitam escolhas: posso escolher ser igual a eles ou ser diferente… ser eu… é por isso q muitos filhos de assassinos não o são, pq as experiências e ensinamentos q tiveram, os mostraram q não é bom ser assassino.

Você deve estar se perguntando: onde ele quer chegar?

Quero falar sobre nossos instintos humanos e o quanto a mensagem do evangelho pode influenciá-los.

Que nós temos potencial para sermos qualquer coisa disso já sabemos… mas pq fazemos determinadas escolhas? pq escolhemos ser mais solidários ou mais egoístas?

Essas escolhas são patrocinadas pela medida de contato q temos conosco… quanto menos nos conhecemos, mais somos egoístas, pq não conhecendo nossas limitações e dependências, achamos que somos hiper-especiais e que o mundo deve girar ao nosso redor… por outro lado, quanto mais nos conhecemos, percemos q somos extremamente necessitados do outro e isso nos torna mais solidários… nesse ponto é que entra o evangelho.

Jesus embora fosse um judeu religioso, não promoveu religião… ele promovia valores que postos em prática, nos tornam pessoas melhores… mostrava através de milagres e serviço que devemos prestar assistência aos mais pobres e desafortunados… q uma vida digna, inclui o outro… q um projeto de vida de sucesso, tem o outro como parte extremamente importante, ja que só com o contato com o outro somos plenificados, pq vendo o outro, vemos a nós mesmos e enxergando suas limitações, vislumbramos nossas fraquezas e alimentamos nossa solidariedade com esse “outro-eu”.

Se o evangelho não serve pra nos colocar em contato com quem somos, ele não serve pra nada… um evangelho q só serve pra nos mostrar a divindade a quem solicitar nossos desejos egoístas é só mais uma religião no sentido mais pejorativo possível… uma boa nova q de boa não tem nada a não ser aquilo q diga respeito à satisfação de nossos desejos mais egoístas e q de nova num tem nada pq buscar desejos individuais sempre foi o objetivo do ser humano, vide o caos em q estamos, é na verdade uma tolice velha…

Se o evangelho não serve para nos apontar na direção da escolha pela solidariedade, se torna só mais uma forma de saciar nossos desejos pessoais, como nosso emprego e patrimonio… uma filosofia religiosa que não incentiva o bem comunitário ao invés do bem pessoal é apenas mais um negócio onde clientes ávidos por satisfazer necessidades buscam formas para isso pagando um preço viável: orações, cultos, ajuntamentos, ofertas, assiduidade, paticipação em atividades do templo, submissão aos detentores do conhecimento q me possibilita satisfazer minhas necessidades e etc… é só mais um sistema de barganha.

Se o evangelho não serve pra gerar bem comunitário é só mais uma “herbalife religiosa”, onde todo mundo diz q esta se ajudando mas na verdade um quer os clientes do outro e a grana do outro… um quer o q o outro tem, e q o motiva a frequência nos templos é a crença de q se Deus fez tal coisa por fulano, vai fazer por mim tbm.

O evangelho, pra mim, é o conhecimento-conteúdo de informações q me capacita a entrar em contato comigo mesmo e com isso ser melhor pra mim e pro próximo… pq buscar um bom relacionamento com Deus sem buscá-lo tbm com o próximo, é uma tentativa picareta de enrolar a Deus, declarando q Deus q está longe e q pode me oferecer algo material, eu consigo suportar, mas o cara chato q só sabe me pedir e fica no meu pé todo dia, quero mais é q se dane… por isso, a todos q pediam pra ser discípulos de Jesus, ele falava pra negar-se (deixar o egosímo, os desejos individualistas), tomar sua cruz (reconhecer suas privações e incapacidades) e seguí-lo, demonstrando que antes de seguirmos a Ele, temos q ter esse encontro com o q somos dentro e q não há como encontrá-lo sem nos encontrarmos.

Confesso q estou cansado do “evangelho das igrejas evangélicas”, q só apresentam Deus como barganhador de benções… um Deus q implora e mendiga nossa atenção, oração e louvores e nos dá bençãos em troca disso; um evangelho q só serve pra nos transformar em “raça eleita”, “povo santo”, “geração escolhida”, no discurso mais elitista e exclusivista possível, afinal nós somos “filhos do rei” e os ímpios (leia-se não crentes) são apenas “criaturas”, são mundanos, dignos de nossa pena e orações maquiadas de solidariedade mas q na verdade são hipócritas e buscam o status de parecer alguem q se preocupa com os outros. Esse evangelho não quero mais… se isso é ser evangélico, declaro aqui publicamente, que não sou mais evangélico… não tenho parte com o q estão fazendo por aí com o nome de evangelho… tenho um nome a zelar e não quero vê-lo junto das imundícies e excrementos produzidos pelo que se dizem evangélicos mas q são camuflados  com “perfume francês” religioso, característico daqueles q não tomam banho mas usam o perfume pra enganar trouxa.

Isso pode parecer chocante ou exagerado mas é assim mesmo q tem q ser… afinal, Paulo chamava o evangelho de “escândalo da cruz”… e o q de escandaloso ainda sobra ao evangelho q vemos?… acho q o único escandalo são os dólares da bíblia, as mansões com direito a réplica do jardim de Jerusalem, os patrimonios gigantescos do líderes evangélicos… o escandalo caracterizado pela subversão de valores, onde os q tem nada tem se não compartilham o q tem, e os q não tem, apesar de hostilizados diariamente, são os beneficiários diretos do reino dos céus… escandalo q prega q todos estão destituídos da glória de Deus por pecarem, mas q o sangue de Cristo e sua vida de sacrificio e servidão, pagaram essa dívida cósmica e nos possibilitam liberdade das cadeias q nos prendiam. Esse é o escandalo q deve marcar o evangelho e se assim não o é mais, ou o atual evangelho deixou de ser Evangelho ou evangélicos esqueceram o q é o Evangelho mas mantêm a nomenclatura pq isso lhes beneficia de alguma forma… mas pra mim, só busco no evangelho, o benefício q advem da Cruz, q me redime e reconecta a Deus.. todo benefício diferente desse é malefício travestido de bem.

Espero que um dia os q se dizem evangélicos conheçam o Evangelho e vejam q sua utilidade se dá no serviço ao próximo, afinal Tiago fala no primeiro capítulo de sua carta que o q ouve o evangelho e não o pratica, é como alguém q se vê no espelho, contempla sua imagem, mas logo ao sair do espelho esquece sua aparência, e mais, que a religião (religação) a Deus é prestar a assistência aos órfãos e viúvas e não se corromper com o sistema do mundo… que o evangelho não sirva apenas pra nos permitir rompantes de contato com quem somos q logo são esquecidos quando somos expostos ao q existe fora de nós, mas que nos aproxime da Luz que vindo ao mundo iluminou e ilumina a todos os homens, na medida em que mostra quem nós somos e produz em nós a necessidade de ser com alguém, pq nem Jesus, a encarnação de Deus, “foi” sozinho.