Caminhando na Graça

24.11.08

Acerca da Fé

Depois da palavra de que ouvi ontem de manhã sobre fé, fiquei pensando sobre isso e resolvi fazer umas considerações por aqui... compartilhar meu ponto de vista acerca da fé.

Do momento em que pensei em escrever e o momento atual quando inicio a escrever de fato, ocorreu um período de leituras, buscas e conversas... um período de comparações, teses, antíteses... e felizmente, aquele q busca, acaba por encontrar o seu objeto de atenção.

Porém, pensar em fé é demasiadamente complexo por vários fatores...

1. Não se tem unanimidade acerca do q seja fé, até pq fé é algo abstrato e de certa forma pessoal, o que implica em dizer q qualquer definição de fé está equivocada se for apresentada como definição comunitária e não de um indivíduo, e é tão mutável como mutável é o ser que a apresentou;

2. Embora existam textos bíblicos sobre o que seja fé principalmente nas cartas de Paulo, não temos como saber o q ele queria dizer com algumas afirmações, sem contar com os possíveis tropeços de tradução e interpretação dos escritos originais para o latim e depois pra língua portuguesa, o q nos força a sempre apelar pra alguns elementos de análise pessoal e nos faz voltar à primeira questão. 

3. Existem vários "tipos" de fé; várias classificações... sob o ponto de vista jurídico, religioso, existencial... então falar de fé considerando todas as vertentes possíveis exige um esforço absurdo e demanda tempo e atenção muito grande; 

Sendo assim, vou tentar falar de fé sob o ponto de vista religioso e mais especificamente cristão, tendo Paulo como base pras minhas elocubrações.

Primeiro, Paulo na carta aos romanos no capítulo 10, fala sobre a necessidade de crermos em Cristo como reconciliador do mundo à Deus e como forma de vencermos a lei (ou o cumprimento de regras mecanicamente) e abraçarmos a Graça de que em Cristo todos foram justificados e religados a Deus por meio da fé que Cristo é o filho de Deus e Salvador, livrando não apenas do inferno ou condenações eternas, mas também de toda confusão da vida q nos põe no limbo de estar ou não salvo na medida em que tropeçamos na vida; a fé que nos possibilita acreditar que Jesus é o q Ele diz ser, nos possibilita sair do purgatório existencial e crer que sendo Ele o que diz ser, eu estou justificado, não por meus méritos mas porque a proposta d’Ele enquanto Deus-homem e Homem-Deus é esta: redimir por seu sacrifício todo aquele que crer que tal sacrifício tem poder redentor, e todo aquele que o invocar como salvador, alcançará tal graça.

Mas Paulo fala que pra que creiamos nisso, precisamos primeiro tomar conhecimento de tal verdade, pois como é possível invocar o q não cremos? E como é possível crer em quem não conhecemos e não ouvimos?... Por outro lado, é impossível ouvir se não há quem fale-viva-pregue o q se pretende passar, não atendendo e atentando à proposta do evangelho, que é sair pra fora e perpassar a boa nova de Cristo como salvador e redentor... até q ele chega a dizer que  “a fé É pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Cristo”.

O que Paulo quis dizer com essa frase: “a fé É pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Cristo”?

Pra mim, o que ele quis dizer é que só podemos crer naquilo em que ouvimos falar de alguma forma, e se tratando da fé em Cristo, ela só pode estar baseada em ouvir coisas que dizem respeito a Ele... nada mais óbvio... não vamos crer em Jesus ouvindo falar sobre Maomé... (a não ser que ja conheçamos Jesus e façamos comparações entre eles e essas comparações reforcem nossa crença em Jesus... mas partindo do príncipio que não se conhece ninguém, só posso crer em alguem quando ouço alguma coisa a respeito dele). A fé passa a existir como tal, no momento em que eu ouço algo que pode basear tal fé, trazendo-a a existência em mim e pra mim, por isso, a fé É pelo ouvir... é o ouvir acerca de algo que traz a fé naquilo à existência.

“Quando nós tomamos posse da fé, quando alegamos sermos proprietários dela, naturalmente estamos pensando que podemos dispor dela do modo que desejarmos. A única coisa que temos o direito de dizer é “a fé me tem”. Todo o resto é mera crença.” (Paulo Brabo)

Isto posto, tiramos a fé de um campo metafísico e transcendental e trazemos para um campo prático, onde o que alimenta minha fé, é obter conteúdo relevante relacionado à esta fé... gerar crescimento pra minha fé em Deus, passa por buscar fontes e argumentos acerca d’Ele q por me fornecerem maior base, reforçam a minha fé, tornando-a mais clara, lúcida e prática, daí a necessidade da busca do conhecimento e de conteúdo de qualidade pra abastecer meus “depósitos de fé”. E esse conhecimento não necessariamente precisa convergir com minhas atuais teses e argumentos; na verdade, ser confrontado por argumentos contrários aos meus, me obrigada a repensar minha fé e buscar mais argumentos, que como consequência, fortalecem a minha fé ou ajudam a remoldá-la.

Kardec dizia que:

"Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão em todas as épocas da Humanidade".

Jung já dizia que:

"O homem que apenas crê e não procura refletir esquece-se de que é alguém constantemente exposto à dúvida, seu mais íntimo inimigo, pois onde a fé cega domina, ali também a dúvida está sempre à espreita. Para o homem que pensa, porém, a dúvida é sempre bem recebida, pois ela lhe serve de preciosíssimo degrau para um conhecimento mais perfeito e mais seguro."

 De fato, o que fortalece a fé, é a capacidade de ouvir sempre, e apesar de sempre ouvir, nunca transformar essa fé em crença; pq crença é quando de tanto ouvir, eu já abraço determinadas teorias e teses e passo a crer nelas, excluindo a necessidade da fé, já que acho q não preciso ouvir nada sobre aquelas questões porque já tenho as minhas crenças acerca daquilo; nesse caso, a crença é inimiga da fé, pq gera convicções q tapam nossos ouvidos pras novas informações geradoras da fé, fé essa q é baseada num relacionado e num ouvir de Deus, sempre aberto e disposto a Ele. Fé pressupõe descansar em Deus e esperar d’Ele a provisão que necessito, não que eu mesmo não precise fazer nada e possa me acomodar, mas é q mesmo que o q eu faço não gera resultados legais, devo crer n’Ele e ouvir d’Ele as palavras que me possibilitam crer no melhor a despeito das circunstâncias.

“Quem é este, que até mesmo o vento e o mar obedecem? (Marcos 4.41). Essa é uma pergunta da fé. Para a crença as coisas são simples: Deus é Todo-Poderoso. Com a crença nós normalizamos Deus, para que possamos nos sentir confortáveis diante do seu poder. Apenas a fé é capaz de apreciar a imensidão de Deus e a sua verdadeira natureza“. (BLOG Bacia das almas)

 


Agora vamos pensar acerca do texto da carta de Paulo aos Hebreus no capítulo 11. 

Paulo começa falando que a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não vemos e depois começa a falar das coisas que foram viabilizadas pela fé... bom testemunho, entendimento, justificação, livramento da morte, visão do q está por vir, obediência, esperança, conquistas, solidariedade, justiça... e entre essas coisas fala que sem a fé é impossível agradar a Deus, uma vez que pra que se achegue a Ele e o agrade, é preciso crer primeiro que Ele existe e tem uma recompensa pra os que o buscam, recompensa essa que antes de qualquer conquista ou vitória humana, é o conhecimento acerca d’Ele mesmo, que deve ser a principal motivação de tal busca... muita gente lê somente as histórias de conquista e vitórias aparentes, ressaltando como a fé é viabilizadora de conquistas e q a nossa fé em ação nos torna vencedores, e sempre considerando questões materiais e humanas. Mas Paulo continua falando da fé, só que agora acerca de açoites, injúrias, cadeias, apedrejamentos, morte, necessidades, maltratos...

Ele quer dizer que os q alcançaram açoites e cadeias não tiveram fé o bastante? Que esses foram os derrotados que não colocaram a fé em ação da forma certa e por isso não foram vitoriosos? Que esses eram pobre coitados que mereciam ser mencionados para que saibamos como não proceder e quais as consequência de não termos uma fé firme?

Não... Paulo trata os “vitoriosos” e “perdedores” aparentemente, de forma igualitária... na verdade, acerca dos tais “perdedores” ele diz o mundo não era digno deles, pq aceitaram ser vistos como perdedores por acreditarem que a vitória nem sempre tem aparência de vitória, mas está sempre relacionada ao cumprimento da missão proposta, no caso, pregar Cristo como filho de Deus e redentor da humanidade.

Isso me mostra que a fé, mais do que focada nas vitórias e conquistas, nas curas e prosperidade, casas e carros, empregos e famílias felizes, deve estar direcionada a Deus, em crer q Ele tem controle sobre as minhas circunstâncias, que Ele sabe o que é bem e bom pra mim, que os planos d’Ele a meu respeito são de bem e paz... isso me possibilita ser grato nas aparentes vitórias mas tbm nas aparentes derrotas e tira o meu foco da situação atual e põe meu foco no q está por vir, não como fuga das minhas situações adversas, mas como vivência hoje da paz proporcionada pelas conquistas e bens que ainda não são fisicamente mas que são hoje pela fé, mesmo que o meu hoje não seja bem, pq creio q Ele, em quem eu deposito minha fé, tem por fim promover bem em mim e pra mim. E é isso que diferencia fé e pensamento possitivo... porque se por um lado o pensamento positivo me faz viver crendo q o futuro será bom, que alcançarei, conquistarei, serei curado e etc, a fé me possibilita viver hoje as consequências dessas mesmas coisas mesmo q eles ainda não estejam estebelecidas... dessa forma, ao invés de ter pensamento positivo que serei curado, com a fé, a despeito de ja estar curado “formalmente”, vivo como se já o estivesse, uma vez que a fé me possibilita apropriar-se hoje de uma circunstância que ainda não é materialmente, mas que é pela fé, já que a fé passa a ser hoje o firme fundamento (base) daquilo que não tem bases formais e materiais, e por isso posso viver não por ser realidade, mas pq É na fé e pela fé.

“Fé é assumir riscos, deixar para trás segurança e tranqüilidade, desprezar garantias: é pisar, como o discípulo, para fora do barco no mar da Galiléia. Se vivemos pela fé, não há necessidade de implorar que ele nos salve do perigo. Torna-se suficiente saber que ele está ali, mesmo que o perigo se mostre mortal; o que quer que o amor de Deus queira fazer ou esteja fazendo em nós será feito, não importa o quê.” (BLOG Bacia das almas)

 

Peguei num fórum na internet uma “definição” de fé que achei interessante:

"A fé é o substituto do saber para situaçoes em que o saber não tem condiçoes de ser adquirido. Em poucas palavras, se não tenho como ter certeza de uma coisa, tenho que usar da fé. Essa fé ajuda o indivíduo a vislumbrar horizontes além do conhecimento. No entanto ela deve dar lugar ao saber a cada passo que este dá. Ou seja, uma vez se provou a veracidade ou a falsidade de algo em que se tinha fé, ela não tem mais utilidade quanto àquela questão, e deve ser abandonada, a não ser que ser que a minha fé que tem Deus como fonte, me dê base para crer em algo diferente do que foi provado" (esse trecho é inserção minha).

Sendo assim, a fé é o “elemento” que me baseia naquilo que não sei... é um suporte ao meu conhecimento, pq nas vezes em que não sei argumentativamente, a fé me se torna um fundamento onde pavimento minhas suposições.

Por fim, a fé deve ter a palavra de Deus como base; só posso chamar de fé, o acreditar que é baseado numa palavra de Deus acerca de mim, e q por posse dessa palavra, através da fé, posso me apropriar hoje do que está por vir; o q passa disso é pensamento positivo; qualquer crer que se baseia em argumentos pessoais e informações externas é pensamento positivo; fé é apenas quando esse crer tem uma palavra de Deus como suporte, já que a fé sob o ponto de vista religioso, só É (vem a existência) quando ouvimos, e não ouvimos qualquer coisa, mas ouvimos a palavra de Cristo, q é a única capaz de gerar em nós certeza e confiança pra vivermos hoje o que ainda não existe... por mais argumentos que tenhamos, nenhuma informação externa nos possibilita isso... só pela fé, gerada em nós pela palavra de Cristo.

A fé só move montanhas quando fala ao onipotente criador – quando me sujeito a ouvir a palavra da fé.” (BLOG Bacia das almas)




P.S. - Apesar do tamanho do texto parecer que este seja quase um "tratado" sobre a fé, não quis aqui definir o q é fé como bem disse no início do texto... meu objetivo foi fazer uma análise (sei que não tão objetiva assim), do que venha a ser fé tendo como base dois trechos das cartas de Paulo... mas isso é só o q penso hoje... e como espero estar sempre aberto pra ouvir o q Deus tem a mim, espero que esse pensamento de hoje cresça e evolua, e q o meu pensar acerca da fé, cada dia mais se achegue ao que seja o pensar de Deus sobre a mesma questão.

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