O SILÊNCIO DO TRIGO E A ZOADA DO JOIO
É impressionante como o mundo está cheio de trigo, embora seja o joio quem dê as cartas na História.
O trigo existe em abundancia, mas é discreto, sem voz alta, sem projeto de ser nada além de pão, sem ambição além do chão, sem pretensão a viver sem antes morrer.
O joio, entretanto, tem o chão, tem a imagem do trigo, mas não dá fruto e nem se torna pão. Por isto, tendo o mesmo chão, tendo a mesma imagem, mas não se tornando pão, o joio não quer morrer, ambicionando existir como clone daquele que dá fruto: o trigo.
O trigo dá fruto depois que morre. O joio não quer morrer, pois seu único fruto é sua própria existência.
O trigo é discreto, posto que o que é, é. O joio só tem sua imagem a projetar. Por isto, se mistura e se confunde entre os que são.
O trigo é forte como a fraqueza que se multiplica em vida, vida, vida... O joio é forte como aquilo que só tem a si mesmo... E mais nada além de si.
Entretanto...
Os dias são maus. Portanto, a legião de trigos tem que viver sua discrição com coragem ousada, pois Deus não deu aos s trigos espírito de covardia, mas de poder, de amor, e de moderação.
As armas dos trigos não são como as dos joios. Os joios vão na força do estelionato, das mascaras, das aparências, das imagens, do poder de controlar, e, sobretudo, da mãe de todos esses males, que é a hipocrisia. O negócio do joio é parecer e aparecer. Mas não é...
O trigo, porém, precisa combater dando muito fruto, e, para tanto, não tendo medo de morrer; pois, se não morrer, fica ele só, mas se morrer, aí sim, produz muito fruto.
Se os seres trigo da terra decidissem viver sem covardia, mas com poder, amor, e moderação — nenhum poder no planeta seria mais forte do que esse.
O Pão da Vida convida todos os trigos a se oferecerem à morte mediante a entrega e a confiança, para que produzam muito fruto, e, assim, dêem ao mundo a chance de pelo menos saber que nem tudo o que se parece com trigo, é trigo; que nem tudo o que se parece com joio, é joio; e que tudo o que é trigo, dá fruto; embora haja trigos que são genuinamente trigo, mas que não estão dando fruto.
A questão não é fazer o joio acabar (esse, segundo Jesus, será trabalho para anjos) — mas ajudar o trigo a não temer morrer; e, assim, dar muito, muito fruto.
O joio continuará tentando substituir amor por poder, bondade pessoal por instituições de ajuda, boa vontade por engajamento político, misericórdia por militância ideológica, amor ao próximo por serviço religioso, adoração a Deus por show musical, pregação da Palavra por sedução mágica, e tudo o mais que o joio se especializou a praticar como estelionato contra a verdade, o amor, e a genuína fé.
Ao trigo, porém, diz o Senhor:
“Não fostes vós que me escolhestes a mim, mas eu vos escolhi a vós outros; e vos designei para que vades, e deis fruto, e vosso fruto permaneça”.
Nele, que assim falou,
Caio
28/12/06
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