Caminhando na Graça

8.8.06

O pai nosso como oração prática de cada dia


No texto de Mateus 5 a 7, vemos o sermão do monte. Esse momento acontece após Jesus chamar seus discípulos e começar suas andanças pregando, curando e tudo o mais; e como não podia ser diferente, as multidões vendo o que Jesus fazia, começaram a segui-lo sempre em maior número. Até que num dado momento, vendo Ele as multidões, subiu no monte; eles já haviam o visto curar, mas agora Jesus quer falar-lhes acerca das coisas que eles vivem cotidianamente. Após os milagres, Jesus podia aproveitar essa oportunidade para explicar seus milagres com todas as explicações quânticas e metafísicas possíveis... ou afirmar sua divindade como Filho de Deus... ou falar sobre qualquer outra coisa, mas Jesus opta por trazer tudo para o plano prático... pega as leis da época e começa a trazer para a prática cotidiana.

Assim, primeiro ele fala das bem-aventuranças, relacionando atitudes, comportamentos e motivações à forma como Deus as via, e qual seria a recompensa dos que de tal modo procederiam. E Jesus fala sobre as nossas atitudes em relação as circunstâncias que nos atingem: humildade, choro, mansidão; ele fala das nossas atitudes para com os outros: Justiça, misericórdia; fala da nossa condição com Deus: limpos de coração e pacificadores; e por último fala sobre o que os outros podem nos fazer: perseguição, injurias, calunia (mentira); e se pensarmos no contexto de político de exploração do povo na época, além dos contextos pessoais de cada um, vemos que ele falava de algo palpável e que permeava o dia-a-dia dos ouvintes.

A partir daí ele fala sobre a aplicação prática de ser sal e luz, e começa a trazer as leis a tona... e aí ele fala de contendas, adultério, juramentos, amor, esmolas e chega na oração, e sempre trazendo todas essas coisas para as aplicações práticas do dia-a-dia.

Desse modo, eu não só vejo o pai nosso como uma oração a ser feita, mas muito mais como um modo de viver a vida.

E acerca da oração primeiro ele desmistifica a oração e coloca-a no seu lugar de momento-individual do ser com Deus; fala sobre a exteriorização desnecessária desse relacionamento-oração como sendo fruto de hipocrisia e nos indica a viver esse relacionamento-oração com Deus nos ambientes que nos são íntimos, nos quartos não só físicos, mas nos “quartos do nosso ser”, na nossa intimidade; fala também das motivações que nos levam a orar e que influenciam a nossa forma de conduzir esse ato “interior-exterior”, dizendo que quando a nossa motivação é aprovação humana, pelo fato dos homens se impressionarem com as performances, nós recebemos nossa recompensa dos homens e nada além disso.

Depois Jesus fala sobre a neurose da oração como ritual. Eu já vi disputas de oração. Gente que queria orar melhor e mais bonito que os outros. Na maioria dos casos, o irmão que orava mais tempo, era visto como aquele que tinha mais intimidade com Deus; tinha mais “papo a bater” com Ele e por isso orava tanto, sem se dar conta das “vãs repetições” contidas na sua oração; e ele fala que quem procede deste modo, o faz pensando que se importunarem a Deus, ele os ouvirá... tal como os profetas de Baal no encontro com Elias... muito falaram mas nada aconteceram. E Jesus justifica a não-necessidade dessas repetições dizendo que o Pai sabe o que precisamos antes de abrirmos a boca: somos flagrantes constantes aos olhos d’Ele. E a partir daí ele começa a falar qual seria o modo de orar-viver:

Pai nosso que estás no céu, santificado seja o seu nome: viva a sua vida de modo a glorificar o nome do pai; e você glorifica a Deus na sua vida quando a luz que esta em você, gera, em você, bons frutos e esses frutos se tornam conhecidos não para sua glória, mas para glória de Deus; ou seja, quando o que é gerado em você através do Espírito não se atém só a você, mas alcança as pessoas ao redor, fazendo com que as boas obras dessa luz que está em você, seja conhecida pelos outros e gere glória a Deus (Mt.5.16).

Venha a nós o teu reino e seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu: viva tendo como prioridade o reino de Deus e sua vontade; e o reino de Deus não é igreja; nem comida e nem bebida; é paz, amor, justiça, e isso só pode ser manifestado no outro. A proposta do reino é que uma vez que o reino é colocado em nós (vem a nós), nosso desejo é cumprir a vontade de Deus, que se manifesta no amor ao próximo, pois como podemos dizer amarmos a Deus em vê-lo quando não amamos o próximo a quem vemos? E como diz o livro de Tiago no capítulo1, versículo 27: “ A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo.

O pão nosso de cada dia nos dá hoje: viva de modo a saber que Deus tem algo próprio a você, uma vez que ele fala do “pão nosso” e não de qualquer pão; Deus tem algo para você hoje, e por mais que nem sempre consigamos ver, cada dia traz algo novo para nós como forma de suprir a nossa necessidade básica; ele te dá hoje o que você necessita hoje, e quando pensamos que algo esta faltando hoje é porque não queremos viver o hoje que esta sendo proposto por Deus para ser vivido hoje, queremos viver hoje o amanhã, seja esse amanhã uma data específica ou uma aspiração futura; e a tentativa de viver hoje o amanhã ou viver o amanhã, hoje, é o que mais tem nos impedido de receber ou de, no mínimo, perceber a porção de hoje que Deus tem nos dado. Basta a cada dia o seu mal!

Perdoa as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores: Viva a vida tendo uma certeza: a medida com que medirdes o próximo, será a mesma usada para te medir; Deus nos trata como tratamos o outro; daí se queremos tratar bem a Deus (e por Ele sermos bem tratados), devemos tratar bem ao próximo; aqui Jesus fala sobre alguém que se reconhece em falta, e por isso necessita de perdão; e reconhecendo sua falta, vê no irmão o seu eu-outro, de modo que a única forma de tratá-lo é com a mesma misericórdia e perdão que tem recebido de Deus.

Não nos deixes entrar em tentação; mas livra-nos do mal: Jesus não fala pra pedirmos pra não sermos tentados... ele fala sobre cair em tentação; tentados nós somos sempre, mas a graça de Deus nos capacita a não entrarmos nela, não cedermos, porque há uma certeza: aquele que entra em tentação e cede a ela, só tem um fruto a colher: mal.

Por fim, Jesus diz que existiam dois tipos de pessoas na multidão: os prudentes e os insensatos e ele dá um exemplo em que duas pessoas iriam construir uma casa, ambas as casas, sofreriam ventos, chuvas e etc, mas o fim delas seria diferente pela base que os seus construtores haveriam lhe dado. Deste modo, nós é que fazemos a escolha entre prudência e insensatez e essa escolha se dá quando, ao recebermos a palavra de Deus e seu ensinamento (casa), não o solidificamos (colocamos na rocha) através da prática existencial, mas optamos por não solidificar e coloca-lo num ambiente arenoso, onde qualquer vento espalha e fazendo com que tudo o que foi recebido se perca, ou no pior dos casos, nos dá a presunção de termos por um dia ter recebido, sem nos percebermos que, o que um dia tivemos, já foi levado pelo vento, e sendo assim, quão grande queda se dará!




N’Ele.