Jesus, um convite à encarnação de Deus
“No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e Era Deus.” S.João
Em círculos cristãos liberais e entre seculares é moda a discussão da divindade de Cristo. Seria ele mesmo a Encarnação de Deus? Ou, seguindo a Doutrina da Trindade, seria ele 100% homem e ao mesmo tempo 100% Deus, desafiando as leis da matemática?
A mim, particularmente, essas questões nunca intrigaram por serem discussões meramente teológicas. Em contrapartida, sempre enxerguei em Jesus algo de tão prático, tão real que extrapola as definições e tratados de fé.
Mas também, se me perguntassem para explicar melhor meus pensamentos, diria apenas que vejo Deus nas “pegadas” de Jesus. Não só em sua morte, mas principalmente em sua vida. Não só na cruz, mas principalmente em sua humanidade. Não só na ressurreição, mas principalmente em seus ensinamentos. E isso vai exatamente na contra-mão do “Cristianismo Moderno” ou Evangelicalismo que me ensinou a ter profunda reverência pela morte na cruz como sacrifício último, pelo sangue derramado e aspergido na cruz como expiação pelos meus pecados e pela ressurreição dentre os mortos que me trouxe redenção.
Miserável sou que condenei um inocente à morte dura e cruel. Mas Ele, pelo seu infinito amor, deu-me a oportunidade de sair dessa condição de pecado e adentrar os portais da eternidade em glória. Como? Aceitando-o, confessando-o como Salvador e Único Senhor, adorando-o, servindo-o, bajulando-o, curvando-me ante sua soberania, resignando-me a minha condição de pecador vil. Mea culpa, mea maxima culpa.
Mas se somos feitos à imagem e semelhança de Deus, por que carregamos todo esse peso de morte quando Ele mesmo fez-nos um convite à liberdade e plenitude da vida? Tem de haver algo de muito errado com essa doutrina ou então comigo.
Voltemos à figura de Jesus. Nascido homem, viveu como homem e morreu como homem. E ainda assim eu acredito piamente em Cristo como Encarnação de Deus. Não reivindico sua divindade através do nascimento virginal, ou da resignação ao destino que o aguardava, ou na sua miraculosa ressurreição. Ainda assim, creio integralmente que Jesus foi 100% homem e 100% Deus. Tudo bem, matemática nunca foi meu forte mesmo.
Jesus encarnou Deus através de seus atos, de seus ensinamentos, de sua vida prática. Ele foi além da religiosidade de seu povo e sua época, ousou desafiar os doutores da lei porque sabia que o que nos salva não são palavras ou rituais, mas a consciência de nossa humanidade, de nossa finitude, de nossos pecados e virtudes, a consciência de nós mesmos.
Numa sociedade onde só ao divino era permitido o dom do perdão, ele ousou perdoar; quando só a Deus cabia a benevolência, ele se permitiu comer, andar e conversar com pecadores, doentes, mulheres, samaritanos e excluídos em geral; onde havia respeito e temor às observâncias da lei e às práticas vazias da religião, Jesus furtou-se ao deleite da hipocrisia.
Ele encarnou Deus, porque foi um homem capaz de olhar sua própria humanidade; Ele encarnou Deus, porque ao se ver como homem viu também seu próximo; Ele encarnou Deus, porque ao se reconhecer no outro, amou-o como a si mesmo; Ele encarnou Deus porque foi livre para amar; Ele encarnou Deus porque morreu como homem que viveu em liberdade; Ele encarnou Deus, porque mostrou-nos a diferença entre sermos à imagem e semelhança de Deus e de termos um Deus à nossa imagem e semelhança.
E como Deus, fez-nos um convite à também sermos encarnação do Divino, pois o Reino de Deus está em nós.
Texto escrito pela Edi - amiga da comunidade "Jesus e meus 20 e poucos anos"