Caminhando na Graça

10.6.08

Onde Deus está?

Em todos os tempos, vemos pessoas, tribos ou povos, que monopolizam o divino e dizem ter exclusividade na manipulação e controle das verdades religiosas e do contato com os seres transcendentes ou com os seus deuses. Sempre houve uma facção, que intermediava o contato “homens-Deus”. Eles eram os sacerdotes, gurus, pajés, sábios... Mas segundo a bíblia, Jesus marcou o rompimento de tal classe... a extinção da necessidade de mediadores, uma vez que a partir da Cruz todos teriam acesso livre e direto a Deus, porém o que vemos é que essa tal “classe privilegiada” continua em ação... aliás, mais ativa do que nunca!

Principalmente nas regiões ocidentais (catolicismo, protestantismo, judaísmo e etc), vemos que os membros de tais religiões se sentem como criaturas especiais ante o resto (no sentido mais pejorativo possível) do mundo. Daí seu discurso exclusivista de que são raça eleita, povo santo, nação escolhida, em detrimento dos outros, que são ímpios, pecadores, dignos de pena e misericórdia. Não que os outros não sejam pecadores, mas o pensamento de que eles não o são, e que estão acima de qualquer suspeita ou falha é o que gera as maiores megalomanias da histórica.

Com esse discurso elitista é que se conseguiu manipular massas no sentido de exterminar os inimigos da fé, como vemos nas cruzadas e diversas guerras santas existentes até hoje. Com isso conseguiu-se manter controlado o povo (pela igreja), em tempos que o sistema de governo se via ameaçado. Com esse discurso, os poderosos conseguiram apaziguar a luta pela mobilidade social no século XV, usando o discurso calvinista como forma de explicar teologicamente, a supremacia dos ricos sobre os pobres. Com isso vemos até hoje o estupro cultural realizado por “missionários” que no discurso de estarem levando a verdade do evangelho, deturpam e destroem culturas de índios e povos orientais.

Enfim, os desdobramentos sociais, culturais e históricos provenientes da concentração do divino nas mãos de poucos são inúmeros, mas e hoje, será que isso ainda acontece?

Hoje o que se vê é que esse controle do transcendente, na cultura ocidental, é dito como em poder das religiões cristãs (que são as predominantes no mundo ocidental) através das igrejas e templos. Por isso, apesar de Cristo (o líder máximo cristão) ser inclusivista, abrindo os portais do reino dos céus a todos quantos queiram encontrá-lo, as igrejas fecham essas portas àqueles que se tornam membros da sua irmandade, declarando que estes, e apenas estes, têm contato com o divino e podem acessá-lo, e mais, que apenas esses têm algo de Deus em si. Desse modo, tudo que está dentro dos currais evangélicos é vergonhosamente santificado pela unção da picaretagem gospel, e tudo o que está fora, é maldito pela “lei universal da exclusividade evangélica sobre os direitos de Deus”.

Mas quando se olha pra vida, pros atos, pra forma como se vivem e pra vida que se forma, vê-se pouco de Deus e de seus valores neles. Sendo assim, aqueles que buscam algum contato com o divino, ao ver que nas igrejas e templos ditos “donos e intermediários de Deus” Ele não é encontrado, se vêem sem referencial e se perguntam: ONDE DEUS ESTÁ?

Alguns acham que ele não existe, uma vez que a vida dos que se dizem seus servos, expressam o exatamente oposto ao que logicamente seria esperada a quem, através do contato com Deus, consegue ter harmonia com o próximo (representação terrena de Deus). Alguns confundem Deus com a imagem que seus servos vendem dele, e com isso, preferem não ter contato com esse Deus elitista, malévolo, preconceituoso e implacável que se vê representado pelos seus servos. Outros cedem às pressões evangélicas e decidem entrar para a irmandade a despeito das concessões e deformações que tenham que sofrer para adequar-se aos padrões estabelecidos. E os outros? Os que não cedem a essas pressões, mas também não deixam de acreditar na existência de Deus, e que sabem q esse ser superior, divino e transcendente não é o que seus ditos servos dizem que ele é (com palavras e principalmente com atos)? O que esses fazem?

Esses têm como alternativa buscar, procurar, “escavar” os fósseis religiosos tentando encontrar um Deus que faça sentido a quem é minimamente pensante e que enxerga em Deus, um ser voltado a estabelecer harmonia entre os seres que Ele mesmo criou. Mas será que eles têm encontrado algo?

Em casos extremamente raros, eles têm encontrado Deus nas religiões sim... não se pode extinguir por completo a possibilidade de ver Deus mesmo que em parte através da religião... mas creio que se pode ver mais de Deus fora das religiões... nas manifestações históricas e culturais... nas artes, na natureza, na vida. Vejo diversas músicas e poesias onde posso ver Deus impregnado em quem nem se sabe d’Ele...

Você pode estar se perguntando: aonde ele quer chegar? Até agora só falou o óbvio... mas saiba que meu objetivo num é revelar nada novo, nem ser um tipo de profeta da atualidade... esse texto é um clamor para que os que se dizem de Deus ou o buscam mesmo que não se sintam d’Ele ou não saibam que o buscam, abram suas mentes para encontrá-lo em tantos lugares quantos forem possíveis... que retirem os filtros que lhes impedem de enxergar Deus em tudo o que há, afinal d’Ele, por Ele e para Ele são todas as coisas... ele é a origem (alfa) e o fim (ômega) de tudo o q há, desde a criação do mundo à criação das artes, culturas, expressões, da vida! Nele estão a gênese e o apocalipse de tudo. Tudo que é, é N’Ele.

Clamo pela metanóia (renovação de mente) descrita por Paulo... clamo pela não conformação (tomar a mesma forma) com o mundo, inclusive o mundo religioso, apelando pra abertura dos portões dos céus a todos quantos desejam passar por eles... clamo pela retirada do poder de “atestado divino” da mão das religiões e pela criação de um atestado individual marcado pela consciência de cada indivíduo que for capaz e maduro o suficiente para diagnosticar o que é de bem e o que é do mal. Clamo pela “libertação de Deus” por parte de “seu povo”.

Pode ser apenas mais um clamor solitário e sem sentido, mas pensando na minha atual situação existencial, só há uma opção possível:


Andar com Fé
Composição: Gilberto Gil
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...(4x)

Que a fé tá na mulher
A fé tá na cobra coral
Oh! Oh!
Num pedaço de pão...

A fé tá na maré
Na lâmina de um punhal
Oh! Oh!
Na luz, na escuridão...

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Olêlê!
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Olálá!...

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Oh Minina!
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...

A fé tá na manhã
A fé tá no anoitecer
Oh! Oh!
No calor do verão...

A fé tá viva e sã
A fé também tá prá morrer
Oh! Oh!
Triste na solidão...

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Oh Minina!
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Olálá!
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...

Certo ou errado até
A fé vai onde quer que eu vá
Oh! Oh!
A pé ou de avião...

Mesmo a quem não tem fé
A fé costuma acompanhar
Oh! Oh!
Pelo sim, pelo não...

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Olêlê!
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Olálá!...

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...

Olêlê, vamos lá!

Andá com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá...(4x)